sexta-feira, 20 de junho de 2014

Maratonas

Passada a primeira semana de Copa, com jogos todos os dias, ainda não me sinto cansado de ver a bola rolando. 
Verdade que, obviamente, não vi todos eles. Nem poderia. Mas a postura ofensiva das equipes, maciçamente predominante, está fazendo desse Mundial, ao menos até aqui, disparado o melhor dos últimos tempos. E isso mesmo quando a técnica de alguns jogadores deixa a desejar. É um jogo emocionante atrás do outro, com ataques lá e cá, muitas vezes com alternâncias de placar, ou, pelo menos, muito equilíbrio em termos de disposição e chances criadas.
Também é verdade que algumas equipes favoritas, ou badaladas, começaram a competição de forma pouco mais do que decepcionante. Casos de Argentina (mesmo com o golaço de Messi), Portugal, o próprio Brasil, e, é claro, acima de todos - ou melhor, abaixo - a Espanha (minha primeira queimação de língua; foi só eu dizer que ainda acreditava nela...). 
Em compensação, Chile, Colômbia, Costa Rica, e Costa do Marfim, têm sido gratas surpresas, além das confirmações, até aqui, de Itália, França, e, sobretudo, Holanda e Alemanha (e vale mais uma vez uma menção honrosa ao Uruguai, de Suarez, que acaba de ressuscitar, e à Inglaterra, que mesmo perdendo duas vezes seguidas, mostrou qualidades; continuo achando criminosa a arrumação dos grupos, com a criação do chamado "grupo da morte").
Mas o que realmente já não dá mais pra aturar, mal começa a disputa é não somente a repetição nauseante das propagandas, mas também a falta de criatividade de muitas delas, com seus clichês em matéria de ufanismo batido, estereótipos de "brasilidade", ou cansativa exploração constrangedora da popularidade (?!) de certos personagens - principalmente jogadores e técnicos de futebol - que da noite para o dia têm de adquirir dotes teatrais insuspeitos.
Sem dúvida que algumas são bem boladas e até bem interpretadas por quem não tem nenhuma obrigação de saber como fazê-lo (já que assim como talento e competência no esporte não se improvisa, o mesmo vale para todas as artes).
Mas assim como acontece com muitos outros setores da comunicação contemporânea, parece que grande parte da publicidade brasileira também está sofrendo de uma espécie de autismo: repete-se à exaustão, abusa das mesmas fórmulas, e reitera os mesmos motivos e chavões - seja os da suposta malandragem adquirida a goles de cerveja, seja da rivalidade com os argentinos, ou as da pieguice patriótica - na reprodução de uma conversa cada vez mais fechada em si mesma, muito mais voltada para os próprios pares e coleguinhas.
Justiça seja feita que o mesmo diagnóstico também valeria hoje para muitas outras práticas e categorias profissionais (a começar pela nossa augusta Academia).
Mas nenhum outro discurso é mais onipresente, inescapável e, acima de tudo, mais estereotipado que o da propaganda.
Ainda mais em tempos de Copa e de olhos grudados na tela.

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