terça-feira, 26 de maio de 2015

Comunicação e política nas eleições de 2014 (Vídeos do VI Encontro da Compolítica)

Vídeos do VI Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política - Compolítica, realizado na PUC-Rio em abril, disponíveis graças ao belo trabalho do Departamento de Comunicação da PUC e do querido Arthur Ituassu:

http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=25899&sid=145#.VWS8JtJVikp


quinta-feira, 21 de maio de 2015

Para meus alunos

Segue abaixo link para matéria super didática publicada no jornal The Washington Post sobre gerrymandering, ou seja: a arte casuística de desenhar distritos eleitorais de modo a garantir que determinado partido ou candidato sempre leve a melhor e conquiste a cadeira, ou cadeiras em disputa naquela circunscrição. Arte, aliás, muito aperfeiçoada nos EUA, por força da longa tradição do sistema eleitoral distrital naquele país:

terça-feira, 19 de maio de 2015

A caixa de Pandora

Há pouco mais de doze anos dizia-se que a nova democracia brasileira havia passado por seu principal teste com a eleição tranquila e a posse festiva de Luís Inácio Lula da Silva, apoiado por um verdadeiro e moderno partido político de massas, tal como fora preconizado durante anos por tantos especialistas e críticos da História política e partidária nacional. Tudo levava a crer que, finalmente, a prática do regime se aproximava dos modelos mais aceitos e que pelo menos no que dizia respeito a dois quesitos fundamentais – consistência representativa partidária e alternância pacífica, porém efetiva de poder; com a investidura, inclusive, de uma forte liderança de esquerda – já podíamos deixar de lado ao menos alguns dos muitos complexos de inferioridade que provavelmente desde a origem marcaram a nossa experiência política como Nação.
Vieram então os governos petistas e outros resultados – talvez surpreendentes – foram obtidos: a estabilidade econômica foi mantida, o crescimento retomado, e a desigualdade social secular fortemente combatida. E tal como já ocorrera com alguns de seus antecessores, o PT, ou alguns de seus líderes e simpatizantes, também acreditaram que seu sucesso e sua hegemonia pudessem durar indefinidamente, ou por décadas.
Mas eis que surgiram então novas crises políticas e econômicas e mesmo vencendo a quarta eleição presidencial consecutiva, o partido e seu governo se veem hoje em luta para fazer valer as prerrogativas conquistadas através do voto, e talvez até enfrentando ameaças de sobrevivência a curto e médio prazo. De modos que as velhas deficiências atribuídas ao nosso sistema, e que talvez já contássemos como superadas – como as tais inconsistências partidárias e as dificuldades de institucionalização da alternância de poder –, parecem voltar a exibir os mesmos traços que, outrora, teriam contribuído para tantas outras crises e mesmo rupturas.
Diante de tal quadro, a boa consciência política nacional, como de hábito, agarra-se à esperança de uma reforma política que possa – talvez mediante algum automatismo – solucionar a crise, recolocar o país na rota de expectativas positivas, ou finalmente fazer da resolução de velhíssimas queixas e promessas uma realidade segura e inexpugnável.
Não pretendo abordar o tema da reforma diretamente, por enquanto (como já disse e esbocei antes aqui, em posts passados, abordar esse assunto a sério demanda muito mais espaço e tempo de discussão).
Somente gostaria de sugerir duas ideias básicas acerca da crise atual:
1) Certamente a vitória de Lula e do PT em 2002 foi significativa e demonstrou a força e a vitalidade do sistema político democrático brasileiro pós-1988; mesmo que depois disso o partido possa ter perdido o rumo, e ainda que modelitos políticos e ideológicos autoritários, que inocentemente julgávamos ultrapassados e fora de moda, tenham resolvido sair dos armários e encher as passarelas públicas com seu inconfundível cheiro de naftalina (ou aromas ainda menos estimulantes). Seja como for, é importante reconhecer não apenas a matéria fluida e volúvel de que são feitos o equilíbrio político democrático e a aparente consistência da experiência social cotidiana, e que, portanto, a chamada evolução institucional se assemelha, na prática, menos a um crescimento vegetativo, supostamente vigoroso – como se a democracia se “consolidasse”, à maneira de uma árvore frondosa –, do que a uma habituação e acomodação de forças mais ou menos precárias e instáveis. Mas também de que faz parte das contradições, da incerteza e da insegurança intrínsecas à nossa condição social e política o fenômeno de se poder assistir, no intervalo de uma mesma geração – ou ainda em períodos mais curtos e dramáticos –, à celebração inequívoca da mobilidade social e da permeabilidade política e institucional – com a ascensão eleitoral de uma liderança incontestavelmente popular, por qualquer ângulo que se observe – sucedida, contudo, pela reafirmação altissonante do que existe de mais brasileiramente reacionário, preconceituoso e antidemocrático. Quer dizer: fazem parte da mesma e dinâmica realidade democrática nacional, de um lado a incorporação e a elegibilidade popular que conduziram pelas vias institucionais ao poder, em sequencia, um sociólogo, um ex-torneiro mecânico e líder sindical, e, por fim, uma ex-guerrilheira, e, de outro, a demonização de todos ou alguns destes – mas acima de tudo, das instituições democráticas que os consagraram – em nome de uma pretensa e hipócrita moralização da vida política, da prédica de romantismos ideológicos inconsequentes ou, mais prosaicamente, na defesa de privilégios cada vez mais incompatíveis com um status quo social e econômico minimamente igualitário, competitivo e instável.
2) E que, portanto, o que assistimos hoje – especialmente em matéria de visibilidade da corrupção e de certa incompetência endêmicas não só do nosso Poder Público, mas também na esfera da nossa iniciativa privada – é o desdobramento natural da verdadeira revolução que o funcionamento corriqueiro das instituições democráticas é capaz de produzir, em especial numa sociedade tão pouco habituada a elementos e a dinâmicas comezinhas de qualquer regime político efetivamente mais liberal e socialmente mais justo.
Não se pode dizer, pois, com certeza, se efetivamente há hoje mais ou menos corrupção do que em outros momentos do passado, seja em termos de montantes envolvidos – e já descontadas a inflação e as variações cambiais – ou da quantidade e importância hierárquica dos corruptos e corruptores envolvidos. Faltam-nos dados. A rigor, porém, descontados os evidentes interesses históricos, ou – ainda mais frequentes – partidários, em se mensurar tais magnitudes, tratam-se todas de números irrelevantes. Basta só um caso de corrupção, e em qualquer escala de valor, para atestar não só o desvio, mas também o interesse coletivo institucional e ético em se coibir o mesmo.
O que não podemos duvidar é que nunca a visibilidade a respeito da mesma corrupção parece ter sido maior. Para tal consequência convergem fatores históricos e institucionais atuais como a alta competitividade do sistema político, a plena liberdade de expressão e a revolução comunicacional em curso, a autonomia relativa de (novos) órgãos controladores e a pressão – ou demanda – mais ou menos popular por transparência (ou, talvez pela exibição ininterrupta de novos capítulos da velha novela patrimonialista, sempre com os mesmos e favoritos vilões e bodes expiatórios).
Ou seja: há muito foi aberta a caixa de Pandora da investigação e apuração dos “malfeitos”, assim como da exploração denuncista, com a exposição contínua das entranhas da conhecidíssima privatização do Público neste país. E se depender da atual democracia brasileira, em seu pleno vigor, podemos ter certeza: ela ainda vai nos revelar muito daquilo que sempre soubemos que acontecia, mas talvez não pudéssemos – ou alguns de nós quiséssemos – ver em detalhe. E não vai ser fácil separar o joio do trigo, ou deixar de confundir alhos com bugalhos, e assim proteger adequadamente as liberdades civis democráticas diante das fúrias pretensamente justiceiras, sejam estas jacobinas ou da Reação, ambas igualmente inerentes ao regime.
Parafraseando então um escritor célebre, diria: não pergunte quem abriu, ou por quem se abriu essa caixa de Pandora.
Pergunte antes: quem mais gostaria ou teria interesse em fechá-la?