Vídeos do VI Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política - Compolítica, realizado na PUC-Rio em abril, disponíveis graças ao belo trabalho do Departamento de Comunicação da PUC e do querido Arthur Ituassu:
http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=25899&sid=145#.VWS8JtJVikp
Retomo aqui, em novo formato, meu velho espaço de troca de idéias sobre política, Brasil, futebol, música e (quase) tudo o mais que me mobiliza. Para leigos, bem informados, colegas, alunos, amigos e amigas em geral.
terça-feira, 26 de maio de 2015
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Para meus alunos
Segue abaixo link para matéria super didática publicada no jornal The Washington Post sobre gerrymandering, ou seja: a arte casuística de desenhar distritos eleitorais de modo a garantir que determinado partido ou candidato sempre leve a melhor e conquiste a cadeira, ou cadeiras em disputa naquela circunscrição. Arte, aliás, muito aperfeiçoada nos EUA, por força da longa tradição do sistema eleitoral distrital naquele país:
terça-feira, 19 de maio de 2015
A caixa de Pandora
Há
pouco mais de doze anos dizia-se que a nova democracia brasileira havia passado
por seu principal teste com a eleição tranquila e a posse festiva de Luís
Inácio Lula da Silva, apoiado por um verdadeiro e moderno partido político de massas,
tal como fora preconizado durante anos por tantos especialistas e críticos da
História política e partidária nacional. Tudo levava a crer que, finalmente, a
prática do regime se aproximava dos modelos mais aceitos e que pelo menos no
que dizia respeito a dois quesitos fundamentais – consistência representativa
partidária e alternância pacífica, porém efetiva de poder; com a investidura,
inclusive, de uma forte liderança de esquerda – já podíamos deixar de lado ao
menos alguns dos muitos complexos de inferioridade que provavelmente desde a
origem marcaram a nossa experiência política como Nação.
Vieram
então os governos petistas e outros resultados – talvez surpreendentes – foram
obtidos: a estabilidade econômica foi mantida, o crescimento retomado, e a
desigualdade social secular fortemente combatida. E tal como já ocorrera com
alguns de seus antecessores, o PT, ou alguns de seus líderes e simpatizantes,
também acreditaram que seu sucesso e sua hegemonia pudessem durar
indefinidamente, ou por décadas.
Mas
eis que surgiram então novas crises políticas e econômicas e mesmo vencendo a
quarta eleição presidencial consecutiva, o partido e seu governo se veem hoje
em luta para fazer valer as prerrogativas conquistadas através do voto, e
talvez até enfrentando ameaças de sobrevivência a curto e médio prazo. De modos
que as velhas deficiências atribuídas ao nosso sistema, e que talvez já
contássemos como superadas – como as tais inconsistências partidárias e as
dificuldades de institucionalização da alternância de poder –, parecem voltar a
exibir os mesmos traços que, outrora, teriam contribuído para tantas outras
crises e mesmo rupturas.
Diante
de tal quadro, a boa consciência política nacional, como de hábito, agarra-se à
esperança de uma reforma política que possa – talvez mediante algum automatismo
– solucionar a crise, recolocar o país na rota de expectativas positivas, ou
finalmente fazer da resolução de velhíssimas queixas e promessas uma realidade
segura e inexpugnável.
Não
pretendo abordar o tema da reforma diretamente, por enquanto (como já disse e
esbocei antes aqui, em posts passados, abordar esse assunto a sério
demanda muito mais espaço e tempo de discussão).
Somente
gostaria de sugerir duas ideias básicas acerca da crise atual:
1)
Certamente a vitória de Lula e do PT em 2002 foi significativa e demonstrou a
força e a vitalidade do sistema político democrático brasileiro pós-1988; mesmo
que depois disso o partido possa ter perdido o rumo, e ainda que modelitos
políticos e ideológicos autoritários, que inocentemente julgávamos
ultrapassados e fora de moda, tenham resolvido sair dos armários e encher as
passarelas públicas com seu inconfundível cheiro de naftalina (ou aromas ainda
menos estimulantes). Seja como for, é importante reconhecer não apenas a matéria
fluida e volúvel de que são feitos o equilíbrio político democrático e a
aparente consistência da experiência social cotidiana, e que, portanto, a
chamada evolução institucional se assemelha, na prática, menos a um crescimento
vegetativo, supostamente vigoroso – como se a democracia se “consolidasse”, à
maneira de uma árvore frondosa –, do que a uma habituação e acomodação de
forças mais ou menos precárias e instáveis. Mas também de que faz parte das
contradições, da incerteza e da insegurança intrínsecas à nossa condição social
e política o fenômeno de se poder assistir, no intervalo de uma mesma geração –
ou ainda em períodos mais curtos e dramáticos –, à celebração inequívoca da
mobilidade social e da permeabilidade política e institucional – com a ascensão
eleitoral de uma liderança incontestavelmente popular, por qualquer ângulo que
se observe – sucedida, contudo, pela reafirmação altissonante do que existe de
mais brasileiramente reacionário, preconceituoso e antidemocrático. Quer dizer:
fazem parte da mesma e dinâmica realidade democrática nacional, de um lado a
incorporação e a elegibilidade popular que conduziram pelas vias institucionais
ao poder, em sequencia, um sociólogo, um ex-torneiro mecânico e líder sindical,
e, por fim, uma ex-guerrilheira, e, de outro, a demonização de todos ou alguns
destes – mas acima de tudo, das instituições democráticas que os consagraram –
em nome de uma pretensa e hipócrita moralização da vida política, da prédica de
romantismos ideológicos inconsequentes ou, mais prosaicamente, na defesa de
privilégios cada vez mais incompatíveis com um status quo social e
econômico minimamente igualitário, competitivo e instável.
2)
E que, portanto, o que assistimos hoje – especialmente em matéria de
visibilidade da corrupção e de certa incompetência endêmicas não só do nosso
Poder Público, mas também na esfera da nossa iniciativa privada – é o
desdobramento natural da verdadeira revolução que o funcionamento corriqueiro
das instituições democráticas é capaz de produzir, em especial numa sociedade
tão pouco habituada a elementos e a dinâmicas comezinhas de qualquer regime
político efetivamente mais liberal e socialmente mais justo.
Não
se pode dizer, pois, com certeza, se efetivamente há hoje mais ou menos
corrupção do que em outros momentos do passado, seja em termos de montantes
envolvidos – e já descontadas a inflação e as variações cambiais – ou da
quantidade e importância hierárquica dos corruptos e corruptores envolvidos.
Faltam-nos dados. A rigor, porém, descontados os evidentes interesses
históricos, ou – ainda mais frequentes – partidários, em se mensurar tais
magnitudes, tratam-se todas de números irrelevantes. Basta só um caso de
corrupção, e em qualquer escala de valor, para atestar não só o desvio, mas
também o interesse coletivo institucional e ético em se coibir o mesmo.
O
que não podemos duvidar é que nunca a visibilidade a respeito da mesma
corrupção parece ter sido maior. Para tal consequência convergem fatores
históricos e institucionais atuais como a alta competitividade do sistema
político, a plena liberdade de expressão e a revolução comunicacional em curso,
a autonomia relativa de (novos) órgãos controladores e a pressão – ou demanda –
mais ou menos popular por transparência (ou, talvez pela exibição ininterrupta
de novos capítulos da velha novela patrimonialista, sempre com os mesmos e
favoritos vilões e bodes expiatórios).
Ou
seja: há muito foi aberta a caixa de Pandora da investigação e apuração dos
“malfeitos”, assim como da exploração denuncista, com a exposição contínua das
entranhas da conhecidíssima privatização do Público neste país. E se depender
da atual democracia brasileira, em seu pleno vigor, podemos ter certeza: ela
ainda vai nos revelar muito daquilo que sempre soubemos que acontecia, mas talvez
não pudéssemos – ou alguns de nós quiséssemos – ver em detalhe. E não vai ser
fácil separar o joio do trigo, ou deixar de confundir alhos com bugalhos, e
assim proteger adequadamente as liberdades civis democráticas diante das fúrias
pretensamente justiceiras, sejam estas jacobinas ou da Reação, ambas igualmente
inerentes ao regime.
Parafraseando
então um escritor célebre, diria: não pergunte quem abriu, ou por quem se abriu
essa caixa de Pandora.
Pergunte antes: quem mais gostaria ou teria
interesse em fechá-la?
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