domingo, 23 de abril de 2017

De tragos, filósofos e esfinges

Não é possível entender a crise atual sem levar em conta as especificidades do contexto particular brasileiro.
Não é possível entender a crise atual sem levar em conta as dimensões internacionais, ou transnacionais do processo.
Não é possível entender a crise atual sem levar em conta o contexto histórico mais amplo que envolve tal processo.
É bem possível que não seja possível entender a crise atual completamente.
Nem agora, nem daqui a décadas, quando os historiadores futuros contarem nossas misérias.
Mas nós que a vivemos, não temos muita escolha.
Ou tentamos compreendê-la, ou seremos tragados por ela.
E há uma grande chance de sermos tragados por ela, independentemente do quanto possamos compreendê-la.
A rigor, já fomos tragados (e se me permitem a metáfora infame, também já estamos sendo expelidos por ela).
Um velho filósofo dizia que o processo histórico movia-se segundo os desígnios de certa "astúcia da Razão". Ele era esperto e muito criativo. Mas parece que um pouco distraído. Teria se esquecido de dizer muitas outras coisas, diria dele logo depois outro velho filósofo, seu discípulo. Em especial, creio, que a tal Razão astuta talvez fosse também um bocado perversa (acho que o discípulo discordaria de mim; para ele a Razão seria contraditória, "dialética", mas no fim tudo acabaria bem; sempre tive problemas com esses e outros filósofos e suas Razões).
Ou melhor: cada vez mais me convenço de que os antigos filósofos, da Antiguidade e até da Idade Média é que realmente sabiam das coisas. De um modo ou de outro, para eles, tudo sempre acabava mal. Mas renascia-se (aliás, teve um filósofo mais recente, próximo no tempo dos dois primeiros, que disse qualquer coisa a respeito; era um sujeito meio confuso e prolixo, mas gosto dele; mesmo sem saber se alguma vez o compreendi corretamente).
Seja como for, os filósofos parecem não poder nos ajudar muito a compreender tudo aquilo que mencionei acima e que julgo necessário sobre essa crise.
Talvez apenas sejam capazes de ajudar a lidar melhor com ela, cotidianamente, mesmo sem poder compreendê-la, e muito menos mudar seus rumos.
E talvez, nas circunstâncias atuais, não seja pouca coisa.