Não é possível entender a
crise atual sem levar em conta as especificidades do contexto particular
brasileiro.
Não é possível entender a
crise atual sem levar em conta as dimensões internacionais, ou transnacionais
do processo.
Não é possível entender a
crise atual sem levar em conta o contexto histórico mais amplo que envolve tal
processo.
É bem possível que não
seja possível entender a crise atual completamente.
Nem agora, nem daqui a
décadas, quando os historiadores futuros contarem nossas misérias.
Mas nós que a vivemos, não
temos muita escolha.
Ou tentamos compreendê-la,
ou seremos tragados por ela.
E há uma grande chance de
sermos tragados por ela, independentemente do quanto possamos compreendê-la.
A rigor, já fomos tragados
(e se me permitem a metáfora infame, também já estamos sendo expelidos por
ela).
Um velho filósofo dizia
que o processo histórico movia-se segundo os desígnios de certa "astúcia
da Razão". Ele era esperto e muito criativo. Mas parece que um pouco
distraído. Teria se esquecido de dizer muitas outras coisas, diria dele logo
depois outro velho filósofo, seu discípulo. Em especial, creio, que a tal Razão
astuta talvez fosse também um bocado perversa (acho que o discípulo discordaria
de mim; para ele a Razão seria contraditória, "dialética", mas no fim
tudo acabaria bem; sempre tive problemas com esses e outros filósofos e suas
Razões).
Ou melhor: cada vez mais
me convenço de que os antigos filósofos, da Antiguidade e até da Idade Média é
que realmente sabiam das coisas. De um modo ou de outro, para eles, tudo sempre
acabava mal. Mas renascia-se (aliás, teve um filósofo mais recente, próximo no
tempo dos dois primeiros, que disse qualquer coisa a respeito; era um sujeito
meio confuso e prolixo, mas gosto dele; mesmo sem saber se alguma vez o compreendi
corretamente).
Seja como for, os
filósofos parecem não poder nos ajudar muito a compreender tudo aquilo que
mencionei acima e que julgo necessário sobre essa crise.
Talvez apenas sejam
capazes de ajudar a lidar melhor com ela, cotidianamente, mesmo sem poder
compreendê-la, e muito menos mudar seus rumos.
E talvez, nas circunstâncias atuais, não seja pouca
coisa.