quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ettore Scola

Mal começou o ano e mais um dos meus artistas favoritos se foi. Entre tantos cineastas italianos cujos filmes sempre me fascinaram – Fellini, Monicelli, De Sica, Bertolucci, Tornatore – acho que dificilmente deixaria de apontar Ettore Scola como o número um. Qualquer lista honesta e razoavelmente não desmemoriada de meus filmes favoritos não poderia nunca deixar de conter obras-primas como "O baile" (veja uma pequena amostra abaixo), "Casanova e a revolução", "A viagem do Capitão Tornado", "Um dia muito especial", "Nós que nos amávamos tanto", ou "Splendor".
Mas é de "O terraço", de 1980 – com Mastroianni, Gassman, Sandrelli, Tognazzi e Trintignant, entre outros, no elenco maravilhoso – a frase que, creio, resume não só o espírito de seus filmes, mas também o da longa tradição humanística que ele sempre cultivou: "somos todos personagens dramáticos que se manifestam comicamente".



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

We love Aladdin Sane!

Would it be enough, for your teenage lust,  
Would it help to ease the pain? Ease your brain?

(It's only rock and roll (but I like it),
Jagger & Richards)


Foi-se embora David Bowie e com ele mais um pouco do espírito do rock que formou a minha geração e as de tantos outros.
Em sinal de profundo respeito a esse espírito, deixo de bom grado a crônica sobre os dados pessoais e a carreira de David Jones, inclusive em seus derradeiros momentos de agonia e criação, para os jornalistas de plantão (afinal, alguém tem que manter em dia os obituários do hall of fame e cuidar da inevitável canonização póstuma das celebridades...).
Reservo-me apenas o direito de falar um pouco sobre o personagem, já que esse pertence a todos nós, que curtimos suas musicas e truques todos esses anos.
Bowie foi um dos maiores, mais inteligentes e irônicos artistas do século XX, e mais do qualquer outro sempre fez questão de dar ao estrelato e à presunção dos vanguardismos a sua devida dimensão de ridículo. Ele sempre fez piada de si mesmo e de todos os modismos e maneirismos, trocando de figurinos, estilos e gêneros – não só os musicais, é claro – com a mesma sem-cerimônia e talento. Criou-se e recriou-se como personagem de si próprio, afirmou e reafirmou a máxima de que na era do rock e do mass media a primeira e principal obra do artista tem de ser ele mesmo, e com isso ditou as regras do mercado pop por décadas. E certamente continuará ditando, até onde nossa vista e ouvidos puderem alcançar.
O que você quer? Rock'n'roll sideral e andrógino? Soul music? Música eletrônica? Muzak? Reencarnações de Barrett, Dylan, Elvis, Sinatra? É só pedir. (Segue aqui o link para uma pequena amostra de um dos muitos estilos bowianos: http://youtu.be/DXvAaNcXNzI).
Ele podia compor e cantar o que quisesse. A verdadeira metamorfose ambulante, era um clown tão elegante – e sempre tão bem acompanhado musicalmente – que toda a ironia e sarcasmo podiam passar plenamente despercebidos. Tudo à disposição da satisfação dos apetites efêmeros, porém insaciáveis da galera.
Bowie foi e sempre será um dos maiores roqueiros de todos os tempos porque nunca esqueceu a primeira, maior e talvez única regra dos velhos cultores do gênero (e que, tudo indica, as novas gerações ainda não aprenderam): nunca, em hipótese alguma, jamais se leve muito a sério!
Por isso encerro aqui meu tributo – antes que eu mesmo acabe por resvalar para o insuportável e onipresente tom sério e melodramático que hoje preside a decrepitude midiática do rock e da cultura pop – e saúdo David Ziggy Stardust Bowie com seu próprio lema: let's dance!