Enquanto zapeava displicentemente os canais, tive a sorte de assistir desde o começo o maravilhoso documentário de Dave "Foo fighter" Grohl sobre a trajetória e o destino final do famoso estúdio Sound City, localizado em Los Angeles.
Com depoimentos emocionados dos donos, funcionários, técnicos, produtores e, é claro, muitos dos artistas que passaram por lá (alguns até cuja carreira simplesmente começou e decolou a partir daquelas salas e estúdios sujos e zoneados), gente do calibre do Fleetwood Mac - na sua mais bem sucedida formação: com Mick Fleetwood, Lindsey Buckingham, a diva Stevie Nicks, Christine & John McVie - mas também o grande Neil Young, Tom Petty, entre outros, chegando até o próprio Nirvana, de Dave Grohl, o filme é um mergulho nostálgico nos bastidores do rock californiano dos anos 1970 e 80.
Mas além disso, é uma narrativa em primeira "pessoa" dos meandros e descaminhos da revolução digital que nas últimas décadas mudou para sempre o universo da música popular. O verdadeiro personagem principal do drama de apogeu e queda de Sound City é, na verdade, uma máquina: a veneranda mesa analógica de som Neve 8028, com seus infindáveis canais e filtros, que na condição de espólio do estúdio falido é transferida e remontada por Grohl em sua homenagem final a Sound City e sua época: a gravação à moda antiga de um disco com muitos dos ídolos e artistas que ali fizeram história. No trecho final do documentário, podemos ver e ouvir, entre tantos, uma aula de como se canta um rock - por Stevie Nicks -, uma demonstração de que Rick Springfield não é apenas um rosto bonitinho, e até mesmo a inusitada parceria dos ex-Nirvana, Grohl e Krist Novoselick, com ninguém menos do que Paul McCartney.
Imperdível para todos os que gostam de música, de músicos, e de todos aqueles outros sonhadores anônimos, que dão duro nos bastidores da pesada indústria da arte para nos brindar com a fantasia e o prazer nossos de cada dia.