sábado, 17 de junho de 2017

"Depois que o tá ruim chegou, nunca mais melhorou..." (ou, bem que queria soar mais otimista no feriado, mas tá difícil)

Tá ruim e tudo indica que ainda vai piorar muito, antes que melhore.
Por quê?
Simplesmente porque independentemente do desfecho mais próximo da crise imediatamente atual, e que envolve diretamente o presidente da nova republiqueta, o golpe consumado no ano passado é muito maior, mais permanente e consistente do que seu ato fundacional – o impeachment de Dilma –, como também vai além do desempenho dos vários canastrões e picaretas que o promovem no proscênio da farsa tragicômica – mais trágica do que cômica – que domina esse país nos últimos, três, quatro, cinco ou, para ser mais exato, doze anos (desde que explodiu o famigerado caso do "mensalão").
Ele é maior porque ultrapassa em muito os marcos institucionais, que vêm sendo sistematicamente destroçados e sacrificados em seu altar de moralização hipócrita e seletiva – a Justiça Eleitoral é a mais recente vítima (auto) imolada do massacre –, maior porque mobiliza setores poderosos da sociedade brasileira, com efetivo apoio, mais ou menos inconsequente, de parcelas maiores, não tão poderosas, porém significativas, da mesma, e, por último, mas não menos importante, também porque se consubstancia, de um lado, numa pauta de "reformas" infelizes que, por assim dizer, se autonomizou, e, de outro, numa tentativa desesperada de controle da anarquia judicialesca, ambas se constituindo nos únicos e fundamentais pontos de convergência das legiões golpistas.
De modos que, seja qual for o destino mais ou menos imediato do "governo" Temer, tal pauta e tal desespero seguirão de um modo ou de outro em suas corridas desabaladas rumo à promoção do caos social e da inviabilização de qualquer estabilização política e recuperação econômica dignas desses nomes, e impedindo, particularmente, o retorno do que quer que que possa ser chamado sem constrangimento de ordem democrática neste país, por longo tempo.
É possível vaticinar sobre os vários desdobramentos possíveis da crise atual: continuidade zumbi do "governo" Temer (não necessariamente só até 2019), interrupção do mesmo e sua substituição por sucedâneo eleito indiretamente, ou, até mesmo, improvavelmente, por novo presidente eleito diretamente, etc.
Seja como for, contudo, isto de modo algum modificará o sentido profundo e principal do que nos aguarda: inviabilidade, por longo tempo, de um novo governo autenticamente popular, democrático, legítimo e, ao mesmo tempo, institucionalmente capaz de levar adiante uma agenda que não somente reverta as excrescências do legado Temer – tanto o já acumulado quanto o que ainda está por vir – mas recoloque o Brasil no devido rumo do crescimento sustentado com a imprescindível redistribuição da renda e combate à desigualdade. Em suma: efetivos governos mais à esquerda, únicos capazes de enfrentar os maiores desafios que há muito esse país impõe a seu povo e a seus dirigentes (quando os há).
Isso não deve ser interpretado como descrença ou desincentivo à mobilização popular ou à presente luta por "diretas já". Embora não tenha grandes esperanças com relação à tal empreitada, entendo, porém, que, por várias razões, ainda assim é uma opção melhor do que a continuidade mal-ajambrada do "governo" Temer, ou sua substituição por um mandatário tampão, eleito indiretamente por estas maiorias pra-lamentares que estão aí.
O que não deve é restar dúvidas quanto ao fundamental: podemos sim, ter governos mais ou menos híbridos de neoliberalismo de fancaria com puro reacionarismo oportunista – como o que temos agora, e possivelmente continuaremos a ter no futuro mais imediato.
O que não poderemos ter assim, ao mesmo tempo, é democracia e ordem.
E não porque tais termos sejam intrínseca ou inevitável e mutuamente excludentes. Infelizmente, não. Regimes democráticos mais estáveis, e em condições socioeconômicas mais favoráveis, podem até se dar ao luxo de eventualmente flertar por algum tempo com retrocessos em suas políticas públicas e apostas pra lá de duvidosas no poder demiúrgico dos mercados.
Mas jamais uma republiqueta de bacharéis casuístas, de escravocratas e golpistas, campeã mundial de desigualdade, irresponsabilidade e hipocrisia.