Como entender os
solavancos a que somos submetidos dia após dia pela nova coalizão usurpadora e
sua agenda?
Diante de tamanhos
absurdos e temeridades – desculpe, não dá pra evitar... – fica difícil não
começar a acreditar em teorias conspiratórias e achar que tudo faz parte de um
mesmo pacote de verdadeiros crimes contra o interesse popular devidamente
premeditados e inseridos, de saída, nas origens do projeto golpista consumado
há um ano (mas possivelmente preparado, ou cultivado há mais tempo).
Pode ser.
Mas além do habitual
desprezo que nutro por esse tipo de construção narrativa, e da incorrigível
desconfiança com relação a grandes apostas na consistência e racionalidade de
processos históricos como esse, atribuir tamanha sistematicidade e
previsibilidade aos golpistas e a seus atos me soa como uma indevida atribuição
de competência e antevisão ao que segue me parecendo muito mais uma conjunção
trágica de oportunismos míopes de uns com complacência criminosa de outros, completando-se
o quadro sinistro com apoios inconsequentes de miríades de setores sociais
inseguros e ressentidos, movidos por ansiedades imediatistas, temores ou
preconceitos tacanhos.
Na verdade, acho que a
melhor metáfora para a situação atual é clínica: a sociedade brasileira,
vitimada que foi, inicialmente, em seu centro nervoso de comando por um
autêntico tumor maligno – o golpe – é hoje um corpo acometido de verdadeira
metástase institucional, e que, de tão debilitado e desprotegido em suas usuais
defesas imunológicas, tornou-se presa fácil de todo tipo de infecção
oportunista.
Assim, creio, se pode ter
um melhor entendimento ou imaginação da sequência ininterrupta de novos
horrores com que temos de conviver há meses. Das "reformas"
mal-ajambradas e à toque de caixa, ao desmonte e à rapinagem ansiosa do
patrimônio público – travestidos eufemisticamente de "privatizações"
–, além do escancaro ao assalto ambiental e à exploração predatória de reservas
minerais estratégicas, por exemplo.
O fato é que o sôfrego
balcão de negociatas instituído pela nova Situação consegue superar qualquer
previsão pessimista em matéria de dano incalculável ao país e a seu futuro.
E pensar que todo o
caminho para esse inferno foi pavimentado com as intenções, até mesmo boas, dos
moralistas de ocasião e sua legião de incautos – ou simplesmente hipócritas –
seguidores, que diziam pretender "passar o país a limpo" (pois não é
que o estão "limpando" mesmo?!).
Seja como for, o quadro
clínico deprimente está aí consolidado. De modos que, aparentemente, nem mesmo
uma tardia remoção do tumor original parece ser mais suficiente para a
regeneração do organismo comprometido.
As únicas esperanças
parecem resistir num segundo, ou terceiro diagnósticos (e confesso que adoraria
estar completamente enganado). Ou na ação, à essa hora milagrosa, de algum tipo
de anticorpo que ainda pudesse se manifestar, a partir, quem sabe, do que resta
de saúde neste gigantesco enfermo.
O certo é que não parece haver "equipe
médica" ou "tecnologia de ponta" (administrativa, econômica ou
institucional) capaz de, sozinha, operar o milagre. Se o paciente de algum modo
não reage...