domingo, 27 de agosto de 2017

Metástase e oportunismos

Como entender os solavancos a que somos submetidos dia após dia pela nova coalizão usurpadora e sua agenda?
Diante de tamanhos absurdos e temeridades – desculpe, não dá pra evitar... – fica difícil não começar a acreditar em teorias conspiratórias e achar que tudo faz parte de um mesmo pacote de verdadeiros crimes contra o interesse popular devidamente premeditados e inseridos, de saída, nas origens do projeto golpista consumado há um ano (mas possivelmente preparado, ou cultivado há mais tempo).
Pode ser.
Mas além do habitual desprezo que nutro por esse tipo de construção narrativa, e da incorrigível desconfiança com relação a grandes apostas na consistência e racionalidade de processos históricos como esse, atribuir tamanha sistematicidade e previsibilidade aos golpistas e a seus atos me soa como uma indevida atribuição de competência e antevisão ao que segue me parecendo muito mais uma conjunção trágica de oportunismos míopes de uns com complacência criminosa de outros, completando-se o quadro sinistro com apoios inconsequentes de miríades de setores sociais inseguros e ressentidos, movidos por ansiedades imediatistas, temores ou preconceitos tacanhos.
Na verdade, acho que a melhor metáfora para a situação atual é clínica: a sociedade brasileira, vitimada que foi, inicialmente, em seu centro nervoso de comando por um autêntico tumor maligno – o golpe – é hoje um corpo acometido de verdadeira metástase institucional, e que, de tão debilitado e desprotegido em suas usuais defesas imunológicas, tornou-se presa fácil de todo tipo de infecção oportunista.
Assim, creio, se pode ter um melhor entendimento ou imaginação da sequência ininterrupta de novos horrores com que temos de conviver há meses. Das "reformas" mal-ajambradas e à toque de caixa, ao desmonte e à rapinagem ansiosa do patrimônio público – travestidos eufemisticamente de "privatizações" –, além do escancaro ao assalto ambiental e à exploração predatória de reservas minerais estratégicas, por exemplo.
O fato é que o sôfrego balcão de negociatas instituído pela nova Situação consegue superar qualquer previsão pessimista em matéria de dano incalculável ao país e a seu futuro.
E pensar que todo o caminho para esse inferno foi pavimentado com as intenções, até mesmo boas, dos moralistas de ocasião e sua legião de incautos – ou simplesmente hipócritas – seguidores, que diziam pretender "passar o país a limpo" (pois não é que o estão "limpando" mesmo?!).
Seja como for, o quadro clínico deprimente está aí consolidado. De modos que, aparentemente, nem mesmo uma tardia remoção do tumor original parece ser mais suficiente para a regeneração do organismo comprometido.
As únicas esperanças parecem resistir num segundo, ou terceiro diagnósticos (e confesso que adoraria estar completamente enganado). Ou na ação, à essa hora milagrosa, de algum tipo de anticorpo que ainda pudesse se manifestar, a partir, quem sabe, do que resta de saúde neste gigantesco enfermo.
O certo é que não parece haver "equipe médica" ou "tecnologia de ponta" (administrativa, econômica ou institucional) capaz de, sozinha, operar o milagre. Se o paciente de algum modo não reage...

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