Juro que
tentei levar as promessas da democracia a sério e tratar a política como objeto
de uma ciência razoavelmente racional. Econômica até. Mas cada vez mais me
convenço de que a melhor formação para o entendimento mínimo da coisa exige uma
imaginação definitivamente clínica, psicologética, quando não pura e
simplesmente psiquiátrica.
Já tive
inclusive oportunidade de me aventurar anteriormente no campo da oftalmologia
sociológica política, ramo que me orgulho de ter inaugurado (salvo evidência
histórica em contrário, e até hoje não encontrada), pelo menos no que diz
respeito ao tratamento da chamada hipermetropia política (porque outros males,
como a miopia política, já foram de certo modo diagnosticados bem antes, por vários
outros observadores; como é sabido, o hipermétrope político é aquele paciente
que só consegue enxergar o que se encontra muito distante dele, principalmente
no tempo, e é incapaz de discernir as formas mais próximas e imediatamente
localizadas).
Mas hoje outro
tipo de patologia se impõe à nossa atenção e análise: trata-se da bipolaridade
política. Ou seja: a alternância mais ou menos cíclica entre estados de euforia
e hiperatividade e de depressão profunda e total, ou quase imobilismo.
Em paralelo à epidemia
de miopia política – na verdade, uma variante extraordinariamente agressiva e
fatal do gênero – que assolou o país nos últimos anos, o que certamente não
passou despercebido pelos experts foi o surto igualmente massivo de
bipolaridade. Aliás, é importante que se esclareça logo que, tal como a maioria
das patologias políticas – e diferentemente de sua homônima clássica – essa
forma específica de bipolaridade é altamente contagiosa.
Pois bem.
Não há dúvida
de que a síndrome atuou e atua no Brasil, hoje, de modo alarmante, e, o que é pior,
sem que as autoridades competentes tomem qualquer atitude diante da gravidade
do fato.
Talvez seja
exatamente um problema de "autoridade" e de "competência".
Já não sei.
Mas é claro
que não pode haver outra explicação clínica para o modo como se oscilou tão
dramática e radicalmente de estados de verdadeira histeria política, tal como
presenciados inúmeras vezes ao longo de 2016, para se cair, em seguida, em tão profunda
e generalizada depressão.
Há quem ainda
acredite em causas coletivas, minimamente racionais, de natureza social, econômica
e até mesmo político-institucional para a difusão de tal enfermidade.
Argumentam que uma crise econômica renitente, o consequente agravamento das
tensões sociais, ou a frustração diante da metamórfica capacidade regenerativa
da corrupção nacional endêmica – mesmo quando desafiada por bravos e impolutos
higienistas – seriam, entre outros, menos votados, os fatores principais causadores
da doença. Ou que alguma dieta excessiva ou exclusiva de determinadas fontes
midiáticas de informação também pode levar a um agravamento do quadro clínico.
Eu também já pensei
assim...
Mas...
...
Agora...
...
Pois éeeeee....
.......
Zzzzzzzzzzzz....
Hum.....
hum......
Zzzzzzzzzzzz...
Hum...
Ronc, ronc...
Zz...
Z..
Ahn??!!!
Oi...
Ah... sim...
claro... como dizia...
...
Mas hoje,
neste momento de confraternização e entusiasmo que nos envolve, e diante do
contexto geral de absoluta normalidade em que estamos inseridos, não é possível
chegar-se a nenhuma conclusão distinta daquela que nos assevera que só são
acometidos por tal doença – e muitas outras também – aqueles que assim o
desejam. Os que evidentemente não possuem a força de vontade, os méritos e a
atitude positiva e necessária para superar os obstáculos naturais da vida.
Afinal, é tudo
uma questão de escolhas e capacidades individuais, não é mesmo?
Quem pode,
pode!
O mundo é dos
espertos!
É isso aí!
Bola pra
frente!!
Vamos à luta!!!
Show!!!
Pois a festa é
sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser...
Jingle bells!
Jingle bells!
Hillary,
Hillary, Hillary ê!!
Ho! Ho! Ho!
....
(Chega! Alguém,
por favor, devolva minha depressão... já!)
....
....
Obrigado.
Feliz 2017.
(Não me pergunte como).