Deixando de
lado as finais da Copa – adoro a Argentina, tenho grande carinho pelos hermanos, mas mesmo com todo o respeito
pela tal unidad latino-americana, sinto
muito: definitivamente não vou torcer por eles amanhã. E por um motivo muito
simples: o time alemão é melhor, jogou melhor nessa Copa, e merece muito mais o
título. Basta dizer que o verdadeiro grande destaque albiceleste, até aqui, foi o Mascherano! Para quem já apreciou o
futebol de Brindisi, Kempes, Ardiles, Passarella, Maradona, Ortega, Batistuta e
cia. milonguera ilimitada, convenhamos
que é dose! – vamos mudando logo de assunto.
"Viva a
liberdade!", de Roberto Andó, tem lá seus altos e baixos. Mas além da bela
interpretação dupla de Toni Servillo – como os gêmeos Enrico e Giovanni – e de
outras qualidades, o filme é uma bem-humorada sátira da política democrática contemporânea.
Conforme já diz a sinopse – e, portanto, não vou estragar a surpresa de ninguém
– o enredo envolve a clássica situação da substituição de alguém importante por
um sósia que, obviamente, além da aparência em nada mais se assemelha ao
original. No caso, a do deprimido e excessivamente cauteloso senador italiano e
líder da oposição, Enrico Oliveri, por seu gêmeo, Giovanni: filósofo, poeta,
recém-saído de uma clínica psiquiátrica e, naturalmente, bon-vivant e imprevisível.
Para além dos qüiproquós típicos, revelações afetivas e acertos de contas do
passado, a substituição se reflete também no ânimo dos correligionários e
militantes, e, por último, mas não menos importante, numa vertiginosa
recuperação de popularidade do senador-candidato e seu partido.
Num certo
sentido, a ironia de “Viva a liberdade!” parece ser a de que, hoje em dia, nas
velhas democracias, só mesmo um louco feliz e carismático é capaz de restituir
o ânimo e a esperança aos militantes e simpatizantes na política (ao passo que
os políticos sérios e responsáveis são igualmente tediosos). Pode parecer
crítico demais, mas para mim, na verdade é um elogio ao regime: afinal de
contas haveria sistema político melhor do que aquele em que você pode trocar os
chefes aleatoriamente e isso não faria, a rigor, a menor diferença?
Ou de que
afinal pouco importa se a política democrática virar mesmo um “espetáculo” – tal
como protagonizado por Giovanni em seus rompantes retóricos –, desde que
possamos continuar usufruindo das vantagens comparativas que, queiram seus
críticos ou não, esse sistema continua oferecendo frente às demais alternativas
viáveis (em especial as já testadas e conhecidas).
Acredito que
ainda se poderia elucubrar melhor e mais divertidamente sobre o assunto, com
base na película.
De qualquer
modo, não quero levar o leitor a encará-la como um tratado político, ou coisa
parecida. Graças a Deus, não!
Por isso segue
aqui a recomendação para curtir o filme (e agradeço à minha querida colega Elena
Lazarou pela dica).
Quanto a Brasil e Holanda... Esquece.