Would it
be enough, for your teenage lust,
Would it
help to ease the pain? Ease your brain?
(It's only rock and roll (but I like it),
Jagger & Richards)
Foi-se embora David Bowie e com ele mais um pouco do
espírito do rock que formou a minha geração e as de tantos outros.
Em sinal de profundo respeito a esse espírito, deixo
de bom grado a crônica sobre os dados pessoais e a carreira de David Jones,
inclusive em seus derradeiros momentos de agonia e criação, para os jornalistas
de plantão (afinal, alguém tem que manter em dia os obituários do hall of
fame e cuidar da inevitável canonização póstuma das celebridades...).
Reservo-me apenas o direito de falar um pouco sobre o
personagem, já que esse pertence a todos nós, que curtimos suas musicas e
truques todos esses anos.
Bowie foi um dos maiores, mais inteligentes e irônicos
artistas do século XX, e mais do qualquer outro sempre fez questão de dar ao
estrelato e à presunção dos vanguardismos a sua devida dimensão de ridículo.
Ele sempre fez piada de si mesmo e de todos os modismos e maneirismos, trocando
de figurinos, estilos e gêneros – não só os musicais, é claro – com a mesma
sem-cerimônia e talento. Criou-se e recriou-se como personagem de si próprio,
afirmou e reafirmou a máxima de que na era do rock e do mass media a
primeira e principal obra do artista tem de ser ele mesmo, e com isso ditou as
regras do mercado pop por décadas. E certamente continuará ditando, até onde
nossa vista e ouvidos puderem alcançar.
O que você quer? Rock'n'roll sideral e andrógino? Soul music? Música eletrônica?
Muzak? Reencarnações de Barrett, Dylan, Elvis, Sinatra? É só pedir. (Segue aqui
o link para uma pequena amostra de um dos muitos estilos bowianos: http://youtu.be/DXvAaNcXNzI).
Ele podia compor e cantar o que quisesse. A verdadeira
metamorfose ambulante, era um clown tão elegante – e sempre tão bem
acompanhado musicalmente – que toda a ironia e sarcasmo podiam passar
plenamente despercebidos. Tudo à disposição da satisfação dos apetites efêmeros,
porém insaciáveis da galera.
Bowie foi e sempre será um dos maiores roqueiros de
todos os tempos porque nunca esqueceu a primeira, maior e talvez única regra
dos velhos cultores do gênero (e que, tudo indica, as novas gerações ainda não
aprenderam): nunca, em hipótese alguma, jamais se leve muito a sério!
Por isso encerro aqui meu tributo – antes que eu mesmo
acabe por resvalar para o insuportável e onipresente tom sério e melodramático
que hoje preside a decrepitude midiática do rock e da cultura pop – e saúdo
David Ziggy Stardust Bowie com seu próprio lema: let's dance!
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