Seria cômico se não fosse trágico: de acordo com urgente
cobertura jornalística da política nacional pelos nossos veneráveis veículos de
"opinião", não apenas causa mal-estar junto aos nossos olímpicos
gestores e à refinada platéia que os adula e inspira, a notícia do rebaixamento
do grau de investimento do Brasil, por um desses oráculos inquestionáveis do
mercado financeiro global, como também gera imediata troca de gentilezas entre
ansiosos candidatos a campeões eleitorais do "governo" e de sua pauta
"reformista" para as próximas eleições presidenciais. Afinal, segundo
o novo consenso geral, foi por conta do adiamento da tal reforma da previdência
que levamos o pito internacional. E aí sobra culpa e reclamação para todo lado
da ínclita coalizão.
Como mudou este país!
Quem, em tempos idos, sequer consideraria a hipótese
de se aventurar como candidato a presidente de um governo que ostenta recordes
em matéria de baixos índices de popularidade, acossado por denúncias e incapaz
sequer de nomear um ministro, ou ministra, sem causar arroubos de indignação
jurídica e incômodo generalizado? E quem levaria a sério tal, ou tais candidaturas?
Afinal, nem bem são passados trinta anos desde que o
mau desempenho de um governo (no caso, o de Sarney) simplesmente inviabilizou qualquer
candidatura governista, inclusive do então maior partido do país, e de uma
liderança como Ulysses Guimarães, ajudando a abrir caminho para a aventura
collorida (é verdade também que, depois da tragédia da não-posse de Tancredo,
os anos pesavam contra Ulysses; não foi à toa, aliás, que a maior parcela do
eleitorado de então não só preteriu nomes tradicionais da política, como também
preferiu, afinal, o candidato (supostamente outsider)
mais enérgico e jovial de todos; deu no que deu...).
Sem querer fazer aqui qualquer maldade – comparando,
por exemplo, a biografia e a estatura política de Ulysses com a dos ilustres
candidatos a candidato do "governo" – fico, porém, me perguntando: o
que leva a tamanho assanhamento eleitoral por parte de quadros tão
umbilicalmente comprometidos com administração tão impopular, e em defesa de um
ideário e de um programa rigorosamente antinacionais e antipopulares?
Descartando-se a hipótese possível, mas não provável,
de que outros objetivos políticos que não exatamente a manutenção do controle
sobre o Planalto guiem, na verdade, tais candidaturas, só resta uma (trágica)
explicação:
O atual rebaixamento do Brasil foi precedido por
outro, bem mais grave e difícil de recuperar.
De democracia emergente e objeto de estudo e admiração
de observadores externos, graças ao golpe consumado em 2016 e ao conseqüente
desmonte de tudo aquilo que, mal ou bem, representava o que havia de melhor em
matéria de welfare state tupiniquim,
fomos não somente subitamente rebaixados, no plano institucional, à condição de
republiqueta de bananas, como social e economicamente retrocedemos ao nível de
colônia de exploração neo-escravagista para negociatas ruinosas e especulação
desenfreada.
Daí não só o servilismo com que se recebe e se
reprocessa a notícia do grau de investimento em queda. Mas acima de tudo a
atenção esquizofrênica dada às ansiedades e rusgas de candidatos cuja relevância
política e partidária só encontra paralelo nas contribuições positivas que
certamente deixarão como legado histórico de sua passagem pelos altos escalões
dirigentes deste abençoado país.
Em suma: em matéria de rebaixamento, esse de agora é
fichinha (e vistos na perspectiva histórica adequada, até os 7x1 ficaram
baratos).
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