sábado, 13 de janeiro de 2018

Do grau de investimento aos graus de esquizofrenia (ou, de um rebaixamento a outro)

Seria cômico se não fosse trágico: de acordo com urgente cobertura jornalística da política nacional pelos nossos veneráveis veículos de "opinião", não apenas causa mal-estar junto aos nossos olímpicos gestores e à refinada platéia que os adula e inspira, a notícia do rebaixamento do grau de investimento do Brasil, por um desses oráculos inquestionáveis do mercado financeiro global, como também gera imediata troca de gentilezas entre ansiosos candidatos a campeões eleitorais do "governo" e de sua pauta "reformista" para as próximas eleições presidenciais. Afinal, segundo o novo consenso geral, foi por conta do adiamento da tal reforma da previdência que levamos o pito internacional. E aí sobra culpa e reclamação para todo lado da ínclita coalizão.
Como mudou este país!
Quem, em tempos idos, sequer consideraria a hipótese de se aventurar como candidato a presidente de um governo que ostenta recordes em matéria de baixos índices de popularidade, acossado por denúncias e incapaz sequer de nomear um ministro, ou ministra, sem causar arroubos de indignação jurídica e incômodo generalizado? E quem levaria a sério tal, ou tais candidaturas?
Afinal, nem bem são passados trinta anos desde que o mau desempenho de um governo (no caso, o de Sarney) simplesmente inviabilizou qualquer candidatura governista, inclusive do então maior partido do país, e de uma liderança como Ulysses Guimarães, ajudando a abrir caminho para a aventura collorida (é verdade também que, depois da tragédia da não-posse de Tancredo, os anos pesavam contra Ulysses; não foi à toa, aliás, que a maior parcela do eleitorado de então não só preteriu nomes tradicionais da política, como também preferiu, afinal, o candidato (supostamente outsider) mais enérgico e jovial de todos; deu no que deu...).
Sem querer fazer aqui qualquer maldade – comparando, por exemplo, a biografia e a estatura política de Ulysses com a dos ilustres candidatos a candidato do "governo" – fico, porém, me perguntando: o que leva a tamanho assanhamento eleitoral por parte de quadros tão umbilicalmente comprometidos com administração tão impopular, e em defesa de um ideário e de um programa rigorosamente antinacionais e antipopulares?
Descartando-se a hipótese possível, mas não provável, de que outros objetivos políticos que não exatamente a manutenção do controle sobre o Planalto guiem, na verdade, tais candidaturas, só resta uma (trágica) explicação:
O atual rebaixamento do Brasil foi precedido por outro, bem mais grave e difícil de recuperar.
De democracia emergente e objeto de estudo e admiração de observadores externos, graças ao golpe consumado em 2016 e ao conseqüente desmonte de tudo aquilo que, mal ou bem, representava o que havia de melhor em matéria de welfare state tupiniquim, fomos não somente subitamente rebaixados, no plano institucional, à condição de republiqueta de bananas, como social e economicamente retrocedemos ao nível de colônia de exploração neo-escravagista para negociatas ruinosas e especulação desenfreada.
Daí não só o servilismo com que se recebe e se reprocessa a notícia do grau de investimento em queda. Mas acima de tudo a atenção esquizofrênica dada às ansiedades e rusgas de candidatos cuja relevância política e partidária só encontra paralelo nas contribuições positivas que certamente deixarão como legado histórico de sua passagem pelos altos escalões dirigentes deste abençoado país.
Em suma: em matéria de rebaixamento, esse de agora é fichinha (e vistos na perspectiva histórica adequada, até os 7x1 ficaram baratos).

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