segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A agenda

Diante do Febeapá que prolifera incessantemente, não só via redes, mas igual e principalmente na ainda chamada “grande mídia”, o artigo publicado há semanas por Marcos Coimbra, na CartaCapital ("Lula abriu fogo"), com o compromisso do ex-presidente, se reeleito em 2018, de convocar referendos para todas as principais "reformas" aprovadas pelo "Governo Temer" e sua base, desde o impeachment de Dilma, é uma grata exceção e dá realmente o que pensar. Não somente pelo conteúdo da matéria em si – a promessa de Lula, sua importância e implicações –, mas principalmente pelo tom, diria otimista, com que o articulista parece avaliar a possibilidade não somente de que o líder petista possa, de fato, disputar a eleição, e de que uma vez vencendo – como hoje é apontado pelas pesquisas, nos lembra Coimbra – conseguirá realmente tomar posse, governar e, inclusive, convocar todos os referendos necessários para submeter a agenda da “Nova Ordem” ao teste da aprovação popular (que, realmente creio, assim como o autor, dificilmente obterão; ao contrário da solicitude irresponsável – pra dizer o mínimo – com que tais "reformas" vêm sendo acolhidas pelas maiorias golpistas no Congresso).
Gostaria imensamente de partilhar do otimismo do articulista, não exatamente, ou somente, no que diz respeito à provável rejeição das "reformas" pela maioria do eleitorado brasileiro, mas sim no que concerne a acreditar que a pré-condição política para tais referendos, ou seja, a vitória e posse de Lula – ou de qualquer outro candidato com o mesmo compromisso – possa ser satisfeita no contexto atual de perversa subversão das instituições.
Ou seja: a manutenção dessa agenda impopular de "reformas" e a neutralização a qualquer custo e risco das forças que possam obstá-la é justamente o que ainda mantém razoavelmente coesa a coalizão golpista. E é muito difícil acreditar que, diante de sua relativa hegemonia atual, qualquer alternativa que minimamente represente ameaça à primeira – a agenda – seja tolerada. Não surpreende, inclusive, que tal tema tão importante não tenha ocupado maior espaço na "grande mídia", como bem o mencionou Coimbra. Como diz o linguajar popular, a quem afinal interessa levantar essa lebre?
É uma pena.
Pois essa poderia – e creio, deveria – ser a principal agenda e debate delimitador, e definidor de posições na campanha presidencial que, até segunda ordem, teremos em 2018: a da manutenção e aprofundamento desse conjunto de "reformas" e do retrocesso e desastre que ele promete para o futuro mais e menos imediato desse país, ou de uma busca – ou retorno – a alternativas de políticas que realmente recoloquem o Brasil no rumo de um crescimento com o mínimo indispensável de autonomia nacional, forçosa (re)democratização política e redistribuição da renda. A proposição de tal agenda de debate, aliás, já seria uma boa justificativa, tanto para o movimento do ex-presidente, quanto para a tentativa do articulista e seu veículo atentarem para o fato e nos informar a respeito (um bom – e assustador – resumo das implicações de partes da atual agenda de "reformas", nos foi fornecido recentemente pelo Senador Roberto Requião (PMDB-PR)).
Infelizmente, porém, já sabemos que nada disso deverá ocupar as manchetes ou dominar a pauta oficial dos previstos e possivelmente futuros debates eleitorais.
Havendo mesmo eleições, a agenda de campanha que será privilegiada pelos golpistas e seus porta-vozes na "grande mídia", e que pela enésima vez vai se forçar goela abaixo do eleitor, será a mesma que os reacionários e seus seguidores analfabetos políticos privilegiam, desde sempre: que o grande problema do Brasil, a ser resolvido pelo futuro Salvador da Pátria, é a velhíssima corrupção, e/ou a voracidade da bête noire do Estado regulador.
Que só existe uma única, repisada (e desastrosa) saída para as crises nacionais: aquela que, de um modo ou de outro, passa necessariamente por poupar as classes mais privilegiadas, escancarar as oportunidades para todo tipo de negociata predatória, deixando que todos os custos afinal recaiam sobre o mesmo e velho lombo dos pobres e da classe média (inclusive das legiões que embarcaram e ainda embarcam na esparrela da "passagem do Brasil a limpo!"– limpo sim, mas só se for de qualquer alternativa real de desenvolvimento econômico e social dignos desses nomes). E que se os mesmos pagadores de sempre não puderem ser convencidos a escolher por vontade própria assumir tais encargos – elegendo os candidatos favoritos da banca –, que se retire deles, enfim, o estorvo chamado voto e o que ainda restar das demais ilusões de soberania popular.

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