Diante do Febeapá
que prolifera incessantemente, não só via redes, mas igual e principalmente na
ainda chamada “grande mídia”, o artigo publicado há semanas por Marcos Coimbra,
na CartaCapital ("Lula abriu fogo"), com o
compromisso do ex-presidente, se reeleito em 2018, de convocar referendos para
todas as principais "reformas" aprovadas pelo "Governo
Temer" e sua base, desde o impeachment de Dilma, é uma grata exceção
e dá realmente o que pensar. Não somente pelo conteúdo da matéria em si – a
promessa de Lula, sua importância e implicações –, mas principalmente pelo tom,
diria otimista, com que o articulista parece avaliar a possibilidade não
somente de que o líder petista possa, de fato, disputar a eleição, e de que uma
vez vencendo – como hoje é apontado pelas pesquisas, nos lembra Coimbra – conseguirá
realmente tomar posse, governar e, inclusive, convocar todos os referendos
necessários para submeter a agenda da “Nova Ordem” ao teste da aprovação
popular (que, realmente creio, assim como o autor, dificilmente obterão; ao
contrário da solicitude irresponsável – pra dizer o mínimo – com que tais
"reformas" vêm sendo acolhidas pelas maiorias golpistas no
Congresso).
Gostaria imensamente de partilhar do otimismo do
articulista, não exatamente, ou somente, no que diz respeito à provável rejeição
das "reformas" pela maioria do eleitorado brasileiro, mas sim no que
concerne a acreditar que a pré-condição política para tais referendos, ou seja,
a vitória e posse de Lula – ou de qualquer outro candidato com o mesmo
compromisso – possa ser satisfeita no contexto atual de perversa subversão das
instituições.
Ou seja: a manutenção dessa agenda impopular de
"reformas" e a neutralização a qualquer custo e risco das forças que
possam obstá-la é justamente o que ainda mantém razoavelmente coesa a coalizão
golpista. E é muito difícil acreditar que, diante de sua relativa hegemonia atual,
qualquer alternativa que minimamente represente ameaça à primeira – a agenda – seja
tolerada. Não surpreende, inclusive, que tal tema tão importante não tenha
ocupado maior espaço na "grande mídia", como bem o mencionou
Coimbra. Como diz o linguajar popular, a quem afinal interessa levantar essa
lebre?
É uma pena.
Pois essa poderia – e creio, deveria – ser a principal
agenda e debate delimitador, e definidor de posições na campanha presidencial
que, até segunda ordem, teremos em 2018: a da manutenção e aprofundamento desse
conjunto de "reformas" e do retrocesso e desastre que ele promete
para o futuro mais e menos imediato desse país, ou de uma busca – ou retorno – a
alternativas de políticas que realmente recoloquem o Brasil no rumo de um
crescimento com o mínimo indispensável de autonomia nacional, forçosa
(re)democratização política e redistribuição da renda. A proposição de tal
agenda de debate, aliás, já seria uma boa justificativa, tanto para o movimento
do ex-presidente, quanto para a tentativa do articulista e seu veículo
atentarem para o fato e nos informar a respeito (um bom – e assustador – resumo
das implicações de partes da atual agenda de "reformas", nos foi
fornecido recentemente pelo Senador Roberto Requião (PMDB-PR)).
Infelizmente, porém, já sabemos que nada disso deverá ocupar
as manchetes ou dominar a pauta oficial dos previstos e possivelmente futuros
debates eleitorais.
Havendo mesmo eleições, a agenda de campanha que será privilegiada
pelos golpistas e seus porta-vozes na "grande mídia", e que pela enésima
vez vai se forçar goela abaixo do eleitor, será a mesma que os reacionários e
seus seguidores analfabetos políticos privilegiam, desde sempre: que o grande
problema do Brasil, a ser resolvido pelo futuro Salvador da Pátria, é a velhíssima
corrupção, e/ou a voracidade da bête noire do Estado regulador.
Que só existe uma única, repisada (e desastrosa)
saída para as crises nacionais: aquela que, de um modo ou de outro, passa
necessariamente por poupar as classes mais privilegiadas, escancarar as
oportunidades para todo tipo de negociata predatória, deixando que todos os
custos afinal recaiam sobre o mesmo e velho lombo dos pobres e da classe média
(inclusive das legiões que embarcaram e ainda embarcam na esparrela da
"passagem do Brasil a limpo!"– limpo sim, mas só se for de qualquer
alternativa real de desenvolvimento econômico e social dignos desses nomes). E
que se os mesmos pagadores de sempre não puderem ser convencidos a escolher por
vontade própria assumir tais encargos – elegendo os candidatos favoritos da
banca –, que se retire deles, enfim, o estorvo chamado voto e o que ainda
restar das demais ilusões de soberania popular.
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