Assim como a maioria dos
meus colegas, gosto de me divertir analisando pesquisas de intenção de voto.
Mas tem horas que fica cansativo.
A última pesquisa Datafolha
sobre a corrida presidencial para 2018, por exemplo: (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/12/1940171-lula-lidera-e-bolsonaro-se-consolida-em-2-aponta-datafolha.shtml)
são tantas as simulações, com esses ou aqueles candidatos, que você bem pode se
perder (ou se entediar) em meio a tantos números, variáveis e tentativas de
interpretação.
Um aspecto, porém, chama
logo a atenção: é a sutil diferença entre as simulações, com esse ou aquele
conjunto, mas em que Lula lidera com maioria relativa ou (quase) absoluta de
intenção de votos. Ou seja: embora as diferenças de votos para o favorito nas
simulações sejam aparentemente pequenas, variando em torno de 34, 37 pontos,
isso pode fazer toda a diferença entre haver ou não um 2º Turno –
presumindo-se, é claro, que deixarão o petista concorrer e que as tendências
atuais do eleitorado se manterão daqui pra frente. De qualquer modo, é com base
nos dados atuais disponíveis que em grande parte têm de se basear os cálculos
eleitorais no presente mais imediato. Não apenas os dos partidos e eventuais
candidatos, é claro, mas também os dos grandes grupos e atores sociais com
poder de influência e igualmente grandes expectativas em relação ao jogo.
Aliás, não é por outra razão que a pesquisa busca sofregamente dar conta de
praticamente todos os cenários possíveis, como que a buscar ansiosamente uma
resposta às óbvias perguntas: quem pode bater Lula (se o Judiciário não o
abater)? E qual o custo? Ou seja: diante das várias alternativas, qual a
viabilidade das mais palatáveis (ou menos indigestas)?
Seja como for, algo que se
pode especular é justamente acerca das implicações de um cenário mais ou menos
pulverizado de candidaturas e o que isso pode significar em termos de
incerteza, riscos relativos e oportunidades. Quanto mais candidatos na
simulação, menores as chances de que Lula possa faturar já no 1º turno.
Teoricamente, uma boa notícia tanto para seus inimigos quanto para os
"amigos" da esquerda que, porventura, sonham ocupar o espaço aberto
com a crise do PT e as indefinições que ameaçam a nova candidatura do velho
líder petista. Por outro lado, a proliferação de candidaturas presidenciais,
além de ampliar o desgaste já grande do processo eleitoral em si, amplia ainda
mais o grau de incerteza da disputa (basta lembrar a campanha de 1989, com sua
miríade de candidatos e seu resultado pra lá de inesperado e não menos problemático).
Por isso mesmo, também não
seria pequeno o abalo, em matéria de incerteza, risco e imprevisibilidade caso
se confirme, mais cedo ou mais tarde – principalmente mais tarde – a exclusão
de Lula da disputa. Dada a diversidade social, regional e ideológica da base de
sustentação de sua candidatura – os atuais 34, 37% que se dizem inclinados a
votar nele, hoje – não é tão simples assim imaginar quais poderiam ser os novos
destinos desse contingente significativo de votos.
Não faltam bons motivos,
portanto, para fortes dúvidas estratégicas, para todos os lados.
Mas não gostaria mesmo é
de estar na pele dos membros da legião de "centristas", ou
"liberais", apoiadores mais ou menos entusiasmados ou discretos do impeachment, que se incomodam com a
dianteira de Lula, mas ao mesmo tempo se apavoram com a candidatura alternativa
mais bem colocada em segundo lugar. Nem vou entrar no mérito das
responsabilidades assumidas no passado frente aos riscos do presente e do
futuro (além de cair, como sempre, em ouvidos moucos, agora já é muito tarde).
Mas que parece uma típica sinuca de bico...
Não é pois à toa que
certos grupos golpistas já se movimentam, prévia e precavidamente, em direção à
própria mudança da forma de governo. Como era inevitável, segue seu curso
desestabilizador a dinâmica posta em movimento desde a última eleição
presidencial pelas engrenagens do golpismo, e ampliam-se exponencialmente os
riscos e as incertezas para todos os atores do jogo. Inclusive os mais bem
aparelhados para surfar na atual e interminável temporada de caça ao butim
público e (re)privatização do Estado brasileiro.
Por essas e outras, de uma
coisa podemos estar certos/as: mantidas as coordenadas básicas do jogo e do
calendário, até a definição oficial das candidaturas, vamos ver e ouvir o diabo
em matéria de possíveis candidaturas a presidente, uma mais estapafúrdia do que
a outra.
E é claro que o risco maior é o de assim acabar se
elegendo justamente o "próprio"....
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