terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Historinhas III (ou quebrando a cabeça em busca de um anti-Lula mais confiável)

Assim como a maioria dos meus colegas, gosto de me divertir analisando pesquisas de intenção de voto. Mas tem horas que fica cansativo.
A última pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial para 2018, por exemplo: (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/12/1940171-lula-lidera-e-bolsonaro-se-consolida-em-2-aponta-datafolha.shtml) são tantas as simulações, com esses ou aqueles candidatos, que você bem pode se perder (ou se entediar) em meio a tantos números, variáveis e tentativas de interpretação.
Um aspecto, porém, chama logo a atenção: é a sutil diferença entre as simulações, com esse ou aquele conjunto, mas em que Lula lidera com maioria relativa ou (quase) absoluta de intenção de votos. Ou seja: embora as diferenças de votos para o favorito nas simulações sejam aparentemente pequenas, variando em torno de 34, 37 pontos, isso pode fazer toda a diferença entre haver ou não um 2º Turno – presumindo-se, é claro, que deixarão o petista concorrer e que as tendências atuais do eleitorado se manterão daqui pra frente. De qualquer modo, é com base nos dados atuais disponíveis que em grande parte têm de se basear os cálculos eleitorais no presente mais imediato. Não apenas os dos partidos e eventuais candidatos, é claro, mas também os dos grandes grupos e atores sociais com poder de influência e igualmente grandes expectativas em relação ao jogo. Aliás, não é por outra razão que a pesquisa busca sofregamente dar conta de praticamente todos os cenários possíveis, como que a buscar ansiosamente uma resposta às óbvias perguntas: quem pode bater Lula (se o Judiciário não o abater)? E qual o custo? Ou seja: diante das várias alternativas, qual a viabilidade das mais palatáveis (ou menos indigestas)?
Seja como for, algo que se pode especular é justamente acerca das implicações de um cenário mais ou menos pulverizado de candidaturas e o que isso pode significar em termos de incerteza, riscos relativos e oportunidades. Quanto mais candidatos na simulação, menores as chances de que Lula possa faturar já no 1º turno. Teoricamente, uma boa notícia tanto para seus inimigos quanto para os "amigos" da esquerda que, porventura, sonham ocupar o espaço aberto com a crise do PT e as indefinições que ameaçam a nova candidatura do velho líder petista. Por outro lado, a proliferação de candidaturas presidenciais, além de ampliar o desgaste já grande do processo eleitoral em si, amplia ainda mais o grau de incerteza da disputa (basta lembrar a campanha de 1989, com sua miríade de candidatos e seu resultado pra lá de inesperado e não menos problemático).
Por isso mesmo, também não seria pequeno o abalo, em matéria de incerteza, risco e imprevisibilidade caso se confirme, mais cedo ou mais tarde – principalmente mais tarde – a exclusão de Lula da disputa. Dada a diversidade social, regional e ideológica da base de sustentação de sua candidatura – os atuais 34, 37% que se dizem inclinados a votar nele, hoje – não é tão simples assim imaginar quais poderiam ser os novos destinos desse contingente significativo de votos.
Não faltam bons motivos, portanto, para fortes dúvidas estratégicas, para todos os lados.
Mas não gostaria mesmo é de estar na pele dos membros da legião de "centristas", ou "liberais", apoiadores mais ou menos entusiasmados ou discretos do impeachment, que se incomodam com a dianteira de Lula, mas ao mesmo tempo se apavoram com a candidatura alternativa mais bem colocada em segundo lugar. Nem vou entrar no mérito das responsabilidades assumidas no passado frente aos riscos do presente e do futuro (além de cair, como sempre, em ouvidos moucos, agora já é muito tarde). Mas que parece uma típica sinuca de bico...
Não é pois à toa que certos grupos golpistas já se movimentam, prévia e precavidamente, em direção à própria mudança da forma de governo. Como era inevitável, segue seu curso desestabilizador a dinâmica posta em movimento desde a última eleição presidencial pelas engrenagens do golpismo, e ampliam-se exponencialmente os riscos e as incertezas para todos os atores do jogo. Inclusive os mais bem aparelhados para surfar na atual e interminável temporada de caça ao butim público e (re)privatização do Estado brasileiro.
Por essas e outras, de uma coisa podemos estar certos/as: mantidas as coordenadas básicas do jogo e do calendário, até a definição oficial das candidaturas, vamos ver e ouvir o diabo em matéria de possíveis candidaturas a presidente, uma mais estapafúrdia do que a outra.
E é claro que o risco maior é o de assim acabar se elegendo justamente o "próprio"....

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