A
essa altura do campeonato tudo leva a crer que, de um modo ou de outro, Dilma
Rousseff será reeleita. Pode ser só em 26 de outubro, disputando com Marina -
como as pesquisas seguem apontando -, ou com Aécio. Pode até ser já no próximo domingo.
É o
desfecho mais provável. Mas ninguém garante. Minha bola de cristal, por
exemplo, nunca funcionou muito bem. Este ano, então...
Na
plausível hipótese de haver segundo turno, porém,e disso podemos ter
certeza,este será ainda pior do que o primeiro, em matéria de
radicalização.
E
mais: que o próximo governo, seja de quem for, terá de lidar com a oposição
mais ressentida e intolerante dos últimos tempos. Dentro e ainda mais do lado
de fora do Congresso Nacional.
Ou
seja: pode até não haver segundo turno. Mas do terceiro a gente não escapa.
Há
duas fortes razões para que isso ocorra: a primeira se deve ao alto grau de
incerteza que o pleito deste ano adquiriu por conta do acirramento e
indefinição da disputa, resultando no fato de que chegamos à reta final do
primeiro turno com três fortes concorrentes e, a princípio, três alternativas
de resultados possíveis: Dilma X Marina, Dilma X Aécio, ou Dilma vencendo já no
domingo. Em condições relativamente normais de temperatura política, essa
indefinição poderia ser facilmente atribuída basicamente às ambigüidades do
contexto de expectativas econômicas – como se sente hoje no cotidiano dos
eleitores, e traduzida na profusão de bons e contraditórios argumentos técnicos
que parecem se apresentar tanto à disposição da situação quanto das oposições
-, e ao desgaste natural de permanência de um mesmo grupo no poder, por mais de
uma década, num sistema tão competitivo como o nosso, hoje (o que, obviamente,
corre em paralelo com o correspondente alijamento dos concorrentes; e mais
dramaticamente, é claro, junto àqueles que perderam o acesso freqüente – ou
mesmo permanente – que se acostumaram a oligopolizar sobre o controle do butim
público e dos tradicionais privilégios de aparelhamento do nosso velho e bom
Estado). De qualquer modo, e somente por tais características, a derrota - ou
derrotas - já seriam naturalmente doídas (afinal, como qualquer torcedor sabe,
por incrível que pareça, perder de 1x0 é pior do que de 7x1; quando se perde de
goleada, não há o que discutir: o adversário foi muito melhor e ponto final;
mas quando se perde de pouco, sempre se pode duvidar da justiça do placar;
sempre aparece o indefectível e irritante questionamento: se aquele lance, ou
aquela decisão do juiz tivessem outro desfecho, a história do jogo poderia ter
sido outra; e haja ressentimento e dificuldade para aceitar a derrota). Mas é
claro que o acidente com Eduardo Campos e a onda que se formou em torno da
candidatura de Marina deram tons ainda mais dramáticos à tal incerteza.
O
elemento que conspira mais fortemente para acirrar os ânimos, contudo, e formar
nuvens escuras no horizonte, tanto de curto quanto de médio prazo, é,
disparado, o tom raivoso e intolerante assumido pelo debate partidário, ou
para-partidário. Em especial nos recantos soi-disant mais informados da intelligentzia
nacional.
Sabemos
que esse processo de radicalização tem história e não começou agora, nessa
campanha (assim como ressoa a patologias políticas nacionais mais antigas,
recorrentes, e de triste memória).
Mas o
que impressiona é que não somente entre os próprios candidatos e suas
propagandas, o que se vê hoje nos artigos de opinião e, principalmente, nas
redes sociais, é uma troca cada vez mais acirrada e agressiva de gentilezas,
provocações e alarmes de profecias catastróficas que de tão renitentes parecem
desejar se auto-cumprir. Como se a vitória de qualquer um dos três candidatos
mais competitivos pudesse representar de fato tamanho risco ou mudança de
rumos, ameaça efetiva para as instituições democráticas, ou coisa parecida.
Enfim, um melodrama de quinta categoria.
Entendo
perfeitamente que para grande número dos variados militantes ora engajados na
disputa, há muito que se ganhar ou perder (como disse, o butim é grande). Até
aí, nada de muito novo.
O
problema é que para outros tantos, igualmente envolvidos até o pescoço no
confronto, mas sem as mesmas perspectivas concretas de ganho – ou perda –, a
essa altura a disputa já se tornou simplesmente uma questão de honra. E
confesso que não sei o que é pior: a luta sem quartel por “boquinhas” – que,
inclusive, de “inhas” podem não ter nada – ou o engajamento ensandecido,
motivado pura e simplesmente por paixões facciosas, mistificações ideológicas
grosseiras, ou preconceito, insegurança e ressentimento de classe.
Seja
como for, e pensando já em 2015 e no começo do próximo governo, acho bom
começar a colocar as barbas de molho e pensar em alguma agenda de descompressão
política.
Pois
não existe ressaca pior do que aquela que se alimenta da embriaguez continuada
e auto-induzida.
Ainda mais com altas doses de veneno.
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